discipulado-1

 Uma definição

            Bem, para iniciarmos este assunto sobre discipulado é preciso oferecer uma definição do que isto significa. Então, o que é discipulado? De modo muito simples podemos dizer que é o processo pelo qual levamos pessoas a se tornarem discípulas de Jesus Cristo. É a maneira pela qual levamos cumprimos a ordem que Jesus nos outorgou: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt 28:19-20).

            É um processo lento, mas gradual de transformação do coração, de mudança de hábitos e tendências pecaminosas. É a ajuda de um discipulador, que faz com que outros discípulos amadureçam na fé e no conhecimento de Jesus Cristo ao ponto de serem capazes de discipular outras pessoas.

            O que Mestre ordena, em Mateus 28:19-20, aos apóstolos e a todos nós não é “façam conversos”, mas “façam discípulos”[1]. Fazer discípulos é muito mais difícil. Tendo, implicações muito maiores, pois ser um discípulo significa muito mais do que ser um convertido, um membro da igreja, um frequentador de templos, um religioso participativo, uma pessoa que congrega frequentemente e etc. Ser discípulo é imitar a Jesus em tudo!

            Por isso mesmo, o ato de discipular alguém é comunicar ao outro não somente conhecimento, mas também, através do exemplo pessoal e do convívio, um estilo de vida semelhante ao de Jesus. A proposta de Jesus na grande Comissão de Mt 28:19-20 é que todo cristão faça novos discípulos. Este é um dever de todos e não apenas de pastores, você entendeu?   

Quatro elementos que compõe o discipulado

            Para ficar bem mais claro o que significa o discipulado cristão podemos, pedagogicamente, dividi-lo em pelo menos quatro elementos. Veja só:

1 . O Conteúdo

Nós discipulamos outas pessoas com o que? Com filmes de Hollywood? Com gibis? Com o Estatuto da igreja? Com a revista “Caras” ou “VEJA”? Com base em minhas ideias próprias ou experiências de vida? É obvio que não. O conteúdo do discipulado é o evangelho de Cristo e todos os mandamentos e princípios contidos na Bíblia Sagrada. Cremos que a Bíblia é a palavra de Deus e sem ela não pode haver discipulado. Ela é a cartilha do discípulo! Pois, nela está toda a mensagem que o Senhor nos confiou. E, através dela conhecemos a vontade de Deus para nós. É sem dúvida uma incrível fonte de vida a todos.

2 . O Discípulo

Ora isto é obvio, mas não poderíamos deixar de mencionar que quem sem um discípulo não existe discipulado! Mas a questão é: quem é este discípulo? O discípulo é aquele para quem é ministrado o ensinamento. É o “aprendiz” ou “aluno” que aprende com outra pessoa as palavras, os atos e o estilo de vida de seu mestre Jesus Cristo com a finalidade de ser um bom discípulo e ensinar a outras pessoas não-cristãs. Neste caso, é novo convertido. É a pessoa que se rendeu a Jesus na igreja e que agora precisa ser ensinado por alguém. Por falar nisto, você está discipulando alguém?

3 . O Discipulador

Este é aquele que ensina, que transmite a mensagem de Jesus em um relacionamento pessoal e dinâmico com o recém-convertido. Ele é um discípulo maduro, que já foi ensinado e treinado por alguém e, então, tornou-se capaz de ensinar e treinar outros. O discipulador é uma pessoa que se empenha em acompanhar, cuidar, ensinar e edificar um novo crente, até que Cristo seja formado nele e ele se torne também um cristão maduro e frutífero, entendeu? Todo novo convertido deve ter como alvo torna-se um discipulador futuramente.

4.  O Processo

O processo? Isso mesmo. Este é o discipulado propriamente dito. O discipulado é o único meio pelo qual conduzimos uma pessoa a ser um verdadeiro discípulo de Cristo. Nisto há um processo obviamente, pois não é instantâneo, nem imediato. Discípulos não surgem do nada. Não dormimos recém-convertidos e acordamos verdadeiros discípulos de Jesus. Isto não ocorreu conosco e não devemos esperar que aconteça com outros! Há um caminho a ser percorrido, uma longa jornada, diga-se de passagem. De acordo o Pr. Mauro Israel, no livro “Chega Junto”, discipulado é a tarefa cristã, no poder do Espírito Santo, de conduzir pessoas a um comprometimento total com Cristo, e acompanhá-las em seu processo de amadurecimento em Cristo e capacitá-las a se reproduzirem em outros discípulos[1].  Esse processo lento, mas gradual exige proximidade, relacionamento, exemplo, prática, amor e muita dedicação. Discipulado não é compartilhar conteúdos teóricos. É transmissão de vida. É mais que aprender ou ensinar, é viver. Não ensinar a andar, é andar junto!

O desafio de fazer discípulos no contexto urbano

            O mundo contemporâneo é predominantemente urbano é o que dizem os especialistas. O Brasil, por exemplo, conta com uma população urbana acima de 80% de acordo com o ultimo senso. O que isto significa? Bem, em suma, isto quer dizer que as pessoas as quais precisamos alcançar, conforme o mandamento de Cristo, são em sua grande maioria, pessoas urbanas. Elas são acostumadas com o transito caótico, com a pluralidade de opções, com as várias tribos urbanas, com o relativismo moral predominante nas metrópoles e etc.

            Este fato apresenta grandes desafios ao discipulado cristão. Segundo o estudioso Hoffmann, o rápido, desenfreado e violento processo urbanizatório brasileiro trouxe benefícios e oportunidades para uma parcela da população urbana. Contudo, acarretou dor e sofrimento para a maioria dos moradores urbanos confinados à periferia e condenados a favelização[1]. As cidades nas quais vivemos são fortemente marcadas pela violência, pelo crime, pela pobreza, pela marginalização, pela falta de moradia, de acesso à saúde, pala discriminação por sua classe social, pela fragmentação familiar, pela solidão, pela incerteza social, econômica e política e por outras inúmeras mazelas sociais.

            É claro que encontramos estas mazelas presentes em outros contextos “não urbanos”, mas, nas cidades estas questões são, proporcionalmente, mais notáveis e intensas. Além disto, e talvez até mais desafiador, é o fato de que a mentalidade das pessoas que vivem nas cidades é fortemente marcada pelo pensamento pós-moderno. Como consequência da pós-modernidade, os homens e mulheres urbanos são relativistas. Para eles não existe uma verdade única, portanto, a verdade, ou que é certo ou errado, depende da percepção de cada pessoa – ela é relativa. O ditado que faz jus a este pensamento pós-moderno é “cada cabeça uma sentença”. O que é bom para você, pode não ser bom para os outros. Desta maneira, diante da pluralidade de religiões e das várias opções sexuais existentes cabe a você decidir o que é melhor; o que é certo ou errado. Isto é relativismo!

            Além de relativistas, as pessoas urbanas são conectadas 24 horas com o mundo através da internet; o mundo é uma aldeia virtual; elas são antenadas, tem acesso a cultura, a informações, a notícias. Outra grande marca da urbanidade é o consumismo exagerado. As pessoas das grandes cidades tem um estilo de vida fortemente delineado pelo consumismo compulsivo e pelo materialismo. Como consequência disto tudo, os homens e mulheres urbanos sofrem com mais regularidade de ansiedade, de estresse, medo, pânico e são acometidas com mais frequência por doenças emocionais causadas por este contexto caótico e tenso. É interessante notar também que as pessoas que vivem em contextos urbanos são sedentas por relacionamentos significativos. É claro que todo ser humano o é; somos seres relacionais. Mas nas cidades a solidão se mostra mais cruel e intensa. As pessoas anseiam se sentir aceitas; buscam o sentimento de pertencimento; desejam por uma comunidade que os acolha.

            Os homens e mulheres das cidades sofrem com relacionamentos amorosos fracassados, com famílias esfaceladas, com a rejeição, o abandono e com uma solidão ultrajante e atroz. Enfim, de forma extremamente resumida, todas estas características marcantes de uma sociedade urbana nos trazem desafios gigantes quanto ao discipulado. Afinal de contas, fomos enviados por Cristo a este mundo, mas especificamente, a esta sociedade contemporânea com a missão de tornar essas pessoas, urbanas e pós-modernas, em discípulas de Jesus Cristo (Jo 20:21).  E então, topa este desafio?

O discipulado é a melhor estratégia!

            Além de ser a única maneira pela qual podemos cumprir a ordem de Jesus o discipulado também é a melhor estratégia de crescimento de igreja. Muito se tem falado sobre isto em nossos dias. E não é para menos, afinal, você não gostaria de ver sua igreja lotada de pessoas salvas por cristo? Você não acharia legal ver um monte de jovens não cristãos com suas vidas todas “tortas” vindo para a sua igreja e se tornando discípulos de Jesus? É claro que sim! Pois bem, o discipulado é o meio pelo qual podemos alcançar este sonho!

            É reconhecido que em nossos dias as igrejas que crescem de forma saudável possuem um bom programa de discipulado. Isto porque quando não existe discipulado pessoas entram pela porta da frente da igreja e saem pelas portas dos fundos.  Infelizmente, esta é a triste realidade em muitas igrejas não é mesmo? A sua está assim? Por isso é urgente que se estabeleça o processo de discipulado de forma efetiva na igreja local. É preciso criar classes ou grupos de discipulado; formação de um grupo de discipuladores; treinamento para estes discipuladores; levantamento dos novos convertidos que precisam ser discipulados; acompanhamento e supervisão etc.

            O processo de discipulado visa fazer com que pessoas se tornem discípulas de Cristo através do ensino bíblico, da integração na comunidade cristã e da vivência da fé. O propósito do discipulado será também o de transformar pessoas não cristãs em discípulos de Cristo com a missão de fazer outros discípulos para Ele. Aquele que foi discipulado deverá discipular. Este ciclo levará a igreja a ser efetiva no cumprimento de sua tarefa de fazer discípulos para Jesus e desta forma alcançará muitos. Aceite este desafio em sua igreja!

Kássio F. P. Lopes

[1] Hoffmann (2007:16).

[1] Mauro (1997:50).

[1] Hendriksen (2001:700).

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