A Bíblia pertence a todos. Não pertence a uma igreja em particular, embora tenha saído do interior delas. Todavia, ela permanece sendo o objeto central da tradição do protestantismo em todo mundo. Por isso, o cristão oferece e lê a Bíblia como subsídio indispensável para ajudá-lo na análise da realidade e na busca da resposta às perguntas que a vida levanta.

Carlos Mesters em seu livro Por Trás das Palavras nos leva a uma reflexão sobre a forma como explicamos a Bíblia às pessoas e nos chama a atenção para considerarmos os seguintes fatores:

Ter em nossa mente que vivemos o hoje, e não basear nosso entendimento das Escrituras no passado, pois a realidade e as necessidades do povo são outras.

Em segundo lugar, existe, indiscutivelmente, um impasse entre exegese e “vivência da fé” e isso se deve ao consentimento universal dos cristãos em torno de um determinado assunto de fé ou de costumes”.

O grande risco que se corre na visão de Mesters é o de se desprezar totalmente esse conhecimento popular e afirmar que essa revelação não passa de invenção da nossa mente. A Bíblia nasce do povo e para o povo, que busca respostas às suas inquietações. Respostas que só se justificam no Criador que, através dos homens, revela sua vontade para a vida deles. Por meio desse texto, Carlos Mesters demonstra sua preocupação em como as diferentes correntes de pensamento envolvendo a fé têm se comportado diante de questões tão sérias e também de relevante importância para todos nós. Ele nos coloca diante da fé que é vivida na igreja e sua importância para o povo que, com este conhecimento, encontra alegria e esperança diante das adversidades enfrentadas no seu dia a dia. Em contrapartida, surge a ciência que, sem levar em conta essa necessidade humana, firma-se nas contradições da Bíblia para dizer que essa fé é ignorante e que desconhece a verdade.

O que se nota dessa preocupação é o desejo de se encontrar um caminho comum em que tanto a fé como a ciência possam caminhar juntas em equilíbrio. Esse é o grande desafio da igreja e seus líderes: promover uma ação pastoral responsável que leve em consideração as necessidades do povo, dando atenção a aquilo que lhes é passado como a vontade de Deus para a vida da igreja sem, contudo, ficar desprovido do conhecimento científico. Assim, evitam os exageros de uma fé cega que lhes impeçam de conduzir o povo sem os exageros do fundamentalismo, pois, afinal, vivemos em um mundo onde os saberes nos chegam a todo o momento, vindos dos mais diferentes meios de comunicação. Isso nos permite traçar caminhos mais seguros para nosso povo sem perdermos a essência da revelação da Bíblia que nos é passada pela “vivência da fé” na vida da igreja.

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